Viabilizar uma nova máquina de hemodiálise e uma fábrica exclusiva para produção de materiais de consumo usados nesse tipo de tratamento. Programado para meados de 2022, esse é um dos projetos da ALFAMED, empresa com mais de 20 anos de atuação no segmento de saúde e sediada em Lagoa Santa/MG.
Já nos dias atuais a companhia, presidida por Otávio Viegas, passa por um momento de ampliação de investimentos e está prestes a inaugurar um novo galpão industrial, em fase final de implantação em Lagoa Santa.
Antecipação
Em novembro de 2019, quando se começou a falar na circulação de um novo vírus, a ALFAMED se antecipou e se mobilizou para uma eventual pandemia, preocupada com a possibilidade de falta de produtos básicos, prejudicados pela escassez de componentes importados. Em janeiro do ano seguinte, a empresa começou a desenvolver um respirador/ventilador sem o uso de oxigênio “porque tínhamos notícias da Ásia, de que o consumo desse elemento estava muito elevado e que a doença levaria a um problema sério com fornecimento de oxigênio medicinal”, segundo Viegas. Um grande desafio para desenvolver o aparelho foi não cortar componentes e recorrer aos nacionais. “A previsão aconteceu e pudemos colaborar em momentos decisivos. Não foi um produto em grande escala porque não é nossa atividade, mas pudemos ajudar de forma bem positiva”, diz ele.
O CEO acredita que daqui a cinco anos as exportações superarão a venda nacional. E revela que o foco da ALFAMED é exportar, “contribuição importante que queremos dar para o país”. A empresa já está entre o grupo de 30 empresas do setor que mais exportam tecnologia. “Queremos ampliar essa contribuição”.
Radiologia
A VMI Médica, empresa de raio-x digital também comandada por Viegas, detém com profundidade a tecnologia de radiação ionizante. Tudo o que ela faz em termos de radiologia e robótica é desenvolvido dentro de sua própria fábrica – com mais de 22.000 m², sendo 7.000m² de área construída – componentes importados só são adquiridos quando são muito estratégicos, segundo o CEO. “Não importamos tecnologia. Temos facilidade, opções e possibilidades de desenvolver produtos bem específicos. Patenteamos um equipamento mundialmente para EUA, China, Canadá e alguns países da Europa”, conta. Ele revela também que a VMI passa por um processo de aprovação de um sistema de reconstrução de imagem tridimensional e imagem volumétrica.
“Tecnologia de captura de imagem, que estão patenteando, é algo muito inovador para a radiologia, em estudos mais aprofundados. Vai haver um novo momento no diagnóstico radiológico, uma evolução muito importante por causa da pandemia. Foi um desafio imposto ao mundo inteiro porque o que temos hoje não é suficiente”, declara ele. “Precisamos de métodos mais modernos, eficientes e aplicáveis. Não é suficiente, precisamos de mais. E vai chamar muito a atenção. Temos que rastrear melhor isso”.
Único no mundo
Outra inovação da VMI na pandemia foi uma cabine de raio-x blindada, viabilizada com inteligência artificial, que pode ser montada em qualquer lugar e faz um diagnóstico auxiliar, voltado para o pulmão e que pode contribuir para combater doenças pulmonares em geral, câncer, Covid-19, DPOC. “O sistema de desinfecção de raios ultravioleta evita a limpeza presencial. O projeto é desenvolvido para esta finalidade e é o único no mundo hoje. Como a gente detém a tecnologia, esse projeto foi desenvolvido em quatro meses. O problema foi juntar e fazer”, explica Viegas.
“Todo momento complexo como esse, de pandemia, gera oportunidades de evolução, crescimento e desenvolvimento tecnológico. O vírus demonstrou que, apesar de todos os avanços, ele ainda consegue superar tudo o que temos”, diz ele, completando que chama atenção o atraso do Brasil em termos de tecnologia.
Criatividade
Para Viegas, a indústria nacional carece de criatividade, haja vista que o Brasil tem um número de patentes muito pequeno. “O brasileiro é criativo, mas falta acreditar mais no que ele é capaz de fazer. Há de ter também políticas governamentais, voltadas para o desenvolvimento. O governo está tendo preocupações, mas está muito no início. Tem que ter mais incentivo, sem que o resultado precise ser rápido, com pesquisas em universidades, indústrias, desenvolvimento de projetos”.
Ele lembra que a indústria 4.0 e o sistema 5G são uma realidade. “Vai ter um avanço monstruoso (com o 5G) e, se o país não começar agora, não teremos como acompanhar. Vai ser algo inovador, rápido e está na porta. Quem vai comandar, quem vai ser o grande fornecedor? Porque ela vai revolucionar o mundo, a comunicação. Temos que nos adequar”, questiona o CEO da VMI e da ALFAMED.
“A indústria da área médica tem capacidade, mas pungência, pois várias competem mundialmente. Faltam políticas de incentivo. Ficou evidente a dependência de máscaras, tivemos problemas com seringas. Ninguém vai privilegiar o Brasil. Somos um dos poucos países do mundo com condições de ser autônomos e independentes. A indústria médica tem tudo para isso. Infelizmente não podemos lutar sozinhos com o mundo, precisamos de uma estratégia maior, de uma política governamental sólida e de fortalecimento e incentivo para manter o nível de competitividade internacional”, pontua Viegas.